quinta-feira, 11 de abril de 2013

Trocando seis por meia dúzia, crônica de Jansen Viana

Diálogo na recepção de um salão de convenções, em Fortaleza: 

- Por favor, gostaria de fazer minha inscrição para o Congresso. 
 - Pelo seu sotaque vejo que o senhor não é brasileiro. O senhor é de onde? 
 - Sou de Maputo, Moçambique. 
 - Da África, né? 
 - Sim, sim, da África. 
 - Aqui está cheio de africanos, vindo de toda parte do mundo. O mundo está cheio de africanos. 
 - É verdade. Mas se pensar bem, veremos que todos somos africanos, pois a África é o berço antropológico da humanidade... 
 - Pronto, tem uma palestra agora na sala meia oito. 
 - Desculpe, qual sala? 
 - Meia oito. 
 - Podes escrever? 
 - Não sabe o que é meia oito? Sessenta e oito, assim, veja: 68. 
 - Ah, entendi, meia é seis. 
 - Isso mesmo, meia é seis. Mas não vá embora, só mais uma informação:                                  A organização do Congresso está cobrando uma pequena taxa para quem quiser ficar com o material: DVD, apostilas, etc., gostaria de encomendar? 
 - Quanto tenho que pagar? 
 - Dez reais. Mas estrangeiros e estudantes pagam meia. 
 - Hmmm! que bom. Ai está: seis reais. 
 - Não, o senhor paga meia. Só cinco, entende? 
 - Pago meia? Só cinco? Meia é cinco? 
 - Isso, meia é cinco. 
 - Tá bom, meia é cinco. 
 - Cuidado para não se atrasar, a palestra começa às nove e meia. 
 - Então já começou há quinze minutos, são nove e vinte. 
 - Não, ainda faltam dez minutos. Como falei, só começa às nove e meia. 
 - Pensei que fosse às 9h5, pois meia não é cinco? Você pode escrever aqui a hora que começa? 
 - Nove e meia, assim, veja: 9h30.
 - Ah, entendi, meia é trinta. 
 - Isso, mesmo, nove e trinta. Mais uma coisa senhor, tenho aqui um folder de um hotel que está fazendo um preço especial para os congressistas, o senhor já está hospedado? 
 - Sim, já estou na casa de um amigo. 
 - Em que bairro? 
 - No Trinta Bocas. 
 - Trinta bocas? Não existe esse bairro em Fortaleza, não seria no Seis Bocas? 
 - Isso mesmo, no bairro Meia Boca. 
 - Não é meia boca, é um bairro nobre. 
 - Então deve ser cinco bocas. 
 - Não, Seis Bocas, entende, Seis Bocas. Chamam assim porque há um encontro de seis ruas, por isso seis bocas. Entendeu? 

6 comentários:

  1. Gostei e interessante essa diferença de "gírias" que temos de um pais para outro.

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    1. Não são gírias, Félix! Lembra dos vários sentidos que uma palavra pode ter? Se entre os países lusófonos há confusão,imagina para um estrangeiro entender isso? A polissemia nos enriquece assim como as gírias. Vamos dar um tratamento especial para elas também. Você pode começar a sua pesquisa, ok?

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  2. super legal, gostei muito do texto.
    muito bacana, ele é engraçado, então traz alegria para o texto
    Thalia 1° B

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    1. Você é a leitora que todo escritor deseja! sempre atenta aos detalhes!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Obrigada, pela autoria! recebi o texto por e-mail sem título e sem autoria. Agora vamos aos créditos que são seus, é claro. Autor consciente é 10!

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