sexta-feira, 18 de setembro de 2020

A CASA CAIU!

por Rozana Gastaldi Cominal

 

Governo golpista traz à tona

alguns dos cacófatos mais conhecidos: 

A mala ia se pudesse

Mas como a mala não posso

A mala fica

V.A.Z.I.A

 

Surpresa com a notícia divulgada?

Mais fácil aprender mesóclise fora de uso: 

Amá-la-ia se pudesse

Mas como amá-la não posso

Mais fácil é enviar  dólares

A mala nada na lama em um paraíso fiscal

 

Em breve

mais um furo de reportagem:

Bater panelas ainda  não  é causa vencida

Capetão quer pobre de barriga v.a.z.i.a

Abrir janelas  ainda está em todas as mídias

Vírus x verme: cresce o número de mortos

E as balas ainda continuam perdidas

Salvem as almas, clamam os pastores de mercado

 

Manifestantes antiaborto e

fundamentalistas  religiosos exorcizam demônios?

Mente v.a.z.i.a, oficina do diabo vivem a esbravejar

Não basta a perda total da inocência

Querem a criança de 10 anos sacrificar

São exímios na prática de abortos em série

 

E o covarde? E a Covid?

De mala e cuia pros Esteites

enquanto aqui mais de cem mil covas ardem

E nós? 

V.A.Z.I.O.S 

sem ar, em casa


Arte interna de Ricardo Newton Rice
Revista Travessias nº 4, eixo temático: Notícias                                                                                               
Para ler mais verso e prosa, clique  à direita em Estudos Literários

CINZAS E FULIGENS

 por Nirlei Maria Oliveira

respire
respire o ar puro que ainda lhe resta
trague e saboreie até o fim
a próxima respiração
pode ser um pequeno sopro

ar rarefeito
dióxido de carbono
cinzas, fuligens
fervura
terra em chamas

devastação
pássaros mortos
animais mortos
plantas mortas
cidades sem sem sol e sem estrelas
sob o céu, apenas uma nuvem de fumaça
combustão, trevas e desrazão

respire fundo
respire se você ainda pode
olhos secos, sem lágrimas
peles enegrecidas
garganta secas e emudecidas
cansaço e desespero
esquecidos
vidas negadas

alheios a tudo
muitos negam
tocam a manada

Neros tocam suas liras
17/09/20


QUÃO BREVE É A VIDA

por Margarida Montejano

Quando o lírio em botão se abre,
a lira dos anjos toca a mais bela
canção do vento.
O vento entre, acordes,
faz folhas e flores,
do chão à copa das árvores,
num ritmo
dançante, balançar.
E no balanço sentido, vivido,
aromas, perfumes, fragrâncias
se espalham no ar.
Felizes os que (com)partilham!
A canção do vento, em nome do lírio, da dança,
da terra, florestas e rios
pede chuva.
Clama para que as correntes,
quentes e frias, se encontrem.
E, no calor do desejo, lavem as cinzas e fuligens
produzidas pelos “homens de bem”.
Limpem os corações produzindo consciência!
Quando o lírio em botão se abre,
altivo entre as flores
nos traz um alento. Um ensinamento:
Pare, olhe e sinta!
Somos todos natureza
e o nosso tempo é curto.
Nossa beleza é efêmera,
Nossa história é líquida e breve e,
em breve, nos encontraremos.
Cuidemos da vida, irmãos!
Cuidemos de nossa natureza enquanto há tempo!
17/09/2020
Obs. Texto inspirado no poema "cinzas e fuligens" de
Nirlei M. Oliveira



HABITE-SE

por Rozana Gastaldi Cominal

Sinal de alerta
A mãe do Brasil é indígena*, a casa é de todos
Sinal dos tempos
Até quando os seres humanos vão viver cafangando?
Muitas são as incertezas para o devir
Verbos em profusão: catingar, ter, invadir
Verbos em extinção: cheirar, ser, provir

Sinal da cruz
— Valha-me, Deus! — o incréu , de joelhos, exclama
Carbonizadas estão fauna e flora na floresta
A terra que não aguenta mais
diante das chamas inclementes reclama:
tanto fez o homem, agora o que me resta?

Sinal fechado
Trânsito desfreado
Barbárie instaurada
Existência alguma importa
Expiram as manadas? Não, foram queimadas vivas!
Espiam os latifúndios? Sim, querem mais extração de minérios!

Sinal aberto
Parte do povo brasileiro aclama
às boiadas humanas:
Salvem a biodiversidade e os animais do país
Salvem as populações indígena, quilombola, ribeirinha, caiçara
S.O.S por hábitat, por morada, por manejo sustentável comunitário

Sinal de fumaça
dos povos originários
nossos ancestrais irmanados
em correntes solidárias conclamam:
venham cuidar do planeta
suas raízes ultrapassam o tupi or not tupi
*Mirian Krexu
arte de Cris Vector